domingo, 18 de março de 2012

Proposta de tradução "The Holyoke" de Frank X. Gaspar e trabalho criativo


The Holyoke

As letras de ferro em relevo,
aquelas duas palavras forjadas em arco
naquela caldeira no quarto de banho,
The Holyoke,
são os primeiros símbolos que alguma vez desvendei
o meu tio-avô dizendo-me os seus sons,
alongando-se no e do The
tal como o assobio de um bule de chá.

A caldeira não funcionava.
aqueciamos a água no fogão
numa tina de cobre, nada de especial,
mas um facto a que me apego
tal como me apego à qualidade da luz
que parecia sempre derramada
sobre o apertado passeio ao longo da casa,
um cinzento invernal, gelo antigo, cinza de carvão,
a película sobre o olho do meu tio-avô.

Quando o meu tio-avô morreu
a sua pensão deixou de vir.
Esse foi o tempo sombrio.
Algum tempo depois fiquei curioso.
Abri a porta arqueada
da velha caldeira
e fitei uma serpentina em espiral
engrossada pelo pó.
Passei o lá o dia
no chão do quarto de banho,
avançando cautelosamente até ao coração da coisa,
revirando tubos,
remexendo as peças com um velho cabide.

Quando acabei, enchi a garrafa de petróleo
e acendi o pavio
Caiu o crepúsculo, e aquela luz plana
pendurava-se na janela quadrada.
Quando abri a torneira, caiu água,
Staccato, castanha, quente como carne.



Breve memória descritiva do filme
Este poema inclui-se no livro de poesia homónimo de Frank X. Gaspar, a sua primeira obra poética e aquela que o lançou para a carreira que o autor tem hoje. Paradoxalmente, a obra também evoca uma certa nostalgia em relação aos seus tempos de infância na comunidade portuguesa de Provincetown sem mencionar as palavras "protuguês" e "Provincetown", como o próprio autor refere no prefácio do livro. Assim, o autor desliga-se de toda a carga que palvras como "saudade" ou "português" podem trazer ao texto não deixando, no entanto, de lhe trazer um sabor português mas conferindo-lhe assim uma identidade única.
Quanto ao poema em si, este é o retrato de algumas memórias de infância do autor, despoletadas pela imagem da caldeira "The Holyoke". As sensações de quente e frio, tal como as variações de luz, perecem variar conforme episódios da vida do autor e os vários estados da água parecem ser metáforas para nos dar conta dos momentos melhores e piores na vida deste (na primeira estrofe temos a imagem do bule de chá, que normalmente deita vapor; na segunda estrofe, já com a morte do tio-avô eminete, temos imagens de gelo, neve e água fria; e na última finalmente a água quente. O filme pretende retratar estes mesmos estados da água (vapor, água fria, gelo e água a ferver) e cadenciar estas imagens com jogos de luz (o claro da luz no passeio e o escuro da cegueira (cataratas - "the film over my great-oncle's eye") do tio-avô. Não se pretende, no filme ilustrar com imagens aquilo que o autor já nos mostra com paravras, mas sim usar as metáforas existentes no texto para dar uma amplitude sensorial deste.

Nota: ao postar a proposta de tradução no blog fiz umas pequenas alterações de última hora, as quais não consegui editar no filme a tempo ser ser posto no blog. Prevalece a tradução em texto.

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