The Holyoke
As letras de ferro em relevo,
aquelas duas palavras forjadas em arco
naquela caldeira no quarto de banho,
The Holyoke,
são os primeiros símbolos que alguma vez desvendei
o meu tio-avô dizendo-me os seus sons,
alongando-se no e do The
tal como o assobio de um bule de chá.
A caldeira não funcionava.
aqueciamos a água no fogão
numa tina de cobre, nada de especial,
mas um facto a que me apego
tal como me apego à qualidade da luz
que parecia sempre derramada
sobre o apertado passeio ao longo da casa,
um cinzento invernal, gelo antigo, cinza de carvão,
a película sobre o olho do meu tio-avô.
Quando o meu tio-avô morreu
a sua pensão deixou de vir.
Esse foi o tempo sombrio.
Algum tempo depois fiquei curioso.
Abri a porta arqueada
da velha caldeira
e fitei uma serpentina em espiral
engrossada pelo pó.
Passei o lá o dia
no chão do quarto de banho,
avançando cautelosamente até ao coração da coisa,
revirando tubos,
remexendo as peças com um velho cabide.
Quando acabei, enchi a garrafa de petróleo
e acendi o pavio
Caiu o crepúsculo, e aquela luz plana
pendurava-se na janela quadrada.
Quando abri a torneira, caiu água,
Staccato, castanha, quente como carne.
Breve memória descritiva do filme
Este poema inclui-se no livro de poesia homónimo de Frank X. Gaspar, a sua primeira obra poética e aquela que o lançou para a carreira que o autor tem hoje. Paradoxalmente, a obra também evoca uma certa nostalgia em relação aos seus tempos de infância na comunidade portuguesa de Provincetown sem mencionar as palavras "protuguês" e "Provincetown", como o próprio autor refere no prefácio do livro. Assim, o autor desliga-se de toda a carga que palvras como "saudade" ou "português" podem trazer ao texto não deixando, no entanto, de lhe trazer um sabor português mas conferindo-lhe assim uma identidade única.
Quanto ao poema em si, este é o retrato de algumas memórias de infância do autor, despoletadas pela imagem da caldeira "The Holyoke". As sensações de quente e frio, tal como as variações de luz, perecem variar conforme episódios da vida do autor e os vários estados da água parecem ser metáforas para nos dar conta dos momentos melhores e piores na vida deste (na primeira estrofe temos a imagem do bule de chá, que normalmente deita vapor; na segunda estrofe, já com a morte do tio-avô eminete, temos imagens de gelo, neve e água fria; e na última finalmente a água quente. O filme pretende retratar estes mesmos estados da água (vapor, água fria, gelo e água a ferver) e cadenciar estas imagens com jogos de luz (o claro da luz no passeio e o escuro da cegueira (cataratas - "the film over my great-oncle's eye") do tio-avô. Não se pretende, no filme ilustrar com imagens aquilo que o autor já nos mostra com paravras, mas sim usar as metáforas existentes no texto para dar uma amplitude sensorial deste.
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